A história de um personagem da novela Caminho das Índias provoca curiosidade sobre uma doença mental cercada por tabus e incompreensões, a esquizofrenia. Segundo especialistas, jovens que fazem uso de drogas, como a maconha, têm dez vezes mais chances de ter a doença, se já forem predispostos.
Para saber como a esquizofrenia se manifesta, o Fantástico conversou com o músico Hamilton, que é vocalista de uma banda e portador da doença. Foi ele que inspirou o personagem Tarso, da novela Caminho das Ìndias.
"Estou vivendo no mundo do hospital, tomando remédio de psiquiatria mental", contou ele. “A esquizofrenia, não sei se com outras pessoas acontece, mas dói o coração. Você sente dor no coração”. Hamilton lembra que o problema traz sensação de vazio e irritabilidade.
Delírios e alucinações
Para conseguir captar o sentimento de quem sofre com a esquizofrenia, o ator Bruno Gagliasso, que interpreta Tasso, visitou vários centros de saúde mental. “Meu estudo foi com a realidade. Foi com o que acontece, dentro dos institutos, conversando com quem tem esquizofrenia, conversando com psiquiatras, foi vendo a verdade e ouvindo a verdade.”
Hoje, no Brasil, 1,5 milhão de pessoas têm esquizofrenia. “É uma doença em que o indivíduo passa a ter sintomas do tipo delírios e alucinações. Além disso, elas começam a ter um retraimento social, evitam contato com seus amigos ou familiares”, explica o professor de Psiquiatria da Unifesp, Rodrigo Bressan.
“Eu achava que a televisão se comunicava comigo, havia troca telepática nos programas que eram feitos exclusivamente pra mim, eu achava que as revistas tinham códigos, mensagens cifradas”, contou José Alberto Orsi, portador da doença.
O cérebro de quem tem esquizofrenia sofre uma alteração química. Os neurônios liberam grande quantidade de uma substância chamada dopamina, e a pessoa começa ter alucinações, como ouvir vozes. A ciência já provou que, quando o paciente diz ouvir vozes, ele realmente ouve. Durante os surtos, áreas cerebrais ligadas à audição são ativadas.
Ninguém está livre de desenvolver a doença, que se manifesta principalmente entre 17 e 30 anos de idade. “Você não precisa ter um pai ou um irmão com esquizofrenia pra você ter a doença. Em geral, os episódios ou surtos agudos da doença estão associados a um stress muito grande ou uso de substâncias químicas que geram stress dentro do cérebro, como por exemplo, drogas que causam dependência, em especial a cocaína, a maconha, anfetamina”, explica Bressan.
“Atualmente, está muito claro que usar maconha, principalmente usar maconha mais cedo, antes dos 15 anos, está associado a desenvolver esquizofrenia. Para aqueles indivíduos predispostos geneticamente e que usam maconha, aumenta em até 10 vezes o risco de desenvolver esquizofrenia”, diz o professor.
Identificação nas escolas
Um trabalho pioneiro começou a ser feito nas escolas públicas: psiquiatras e psicólogos da Universidade Federal de São Paulo estão treinando os professores para identificar adolescentes com sintomas da doença.“O adolescente tem características que são próprias, às vezes é agitado, às vezes é depressivo, quer ficar no quarto, isso é normal. Em uma gama de alunos, você consegue perceber aquele que é mais agitado além do normal do adolescente. O pai não percebe porque pra ele o filho é maravilhoso, é tudo de bom, ele não vai enxergar, mas o professor, perto dele tem 50, então ele vai perceber um que é diferente, vai conseguir perceber melhor do que o pai”, analisa a professora Eliana Peres.
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